Brasil - Brasília - Distrito Federal - 27 de outubro de 2025
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Brasil não está sozinho e ‘legitimidade da virtude’ empregada pelo Ocidente é colocada em xeque

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Presidente Lula se reuniu no Chile com líderes de outros quatro países para discutir os rumos da democracia global e a importância de fortalecer o multilateralismo nas relações entre nações.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, esteve nesta segunda-feira (21) em Santiago, no Chile, para a reunião Democracia Sempre. Além de Gabriel Boric, anfitrião do evento, estiveram no encontro os líderes de Colômbia, Espanha e Uruguai para discutir os rumos da política ao redor do mundo.

Assim como na Cúpula do BRICS, realizada no Rio de Janeiro no início deste mês, os presidentes latino-americanos e o primeiro-ministro espanhol falaram da importância do fortalecimento do multilateralismo para a governança global em diversos assuntos, como o combate à desinformação e à desigualdade social.

Em declaração ao lado dos outros líderes, Lula afirmou que é necessário união para enfrentar o intervencionismo. “Neste momento em que o extremismo tenta reeditar práticas intervencionistas, precisamos atuar juntos.”

Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas declararam que o Brasil, de fato, não está só na luta contra ações dos “populismos de direita” e que a “legitimidade da virtude” comumente empregada por países do Ocidente, em especial EUA e Europa, está sendo colocada em xeque.

A professora de ciência política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mayra Goulart afirma que a luta pela democracia não é solitária porque todos que precisam enfrentar grupos que desafiam as instituições democráticas conhecem a “ameaça”, que tem a forte tendência de “concentrar poder”.

“A defesa dessas instituições [democráticas], como está fazendo o presidente Lula, não é algo solitário e perpassa todos os que estão sendo ameaçados pela ascensão desses populistas de direita.”

Para Goulart, encontros como o de hoje e a Cúpula do BRICS são uma forma de articulação contra países do Ocidente que rotineiramente buscam esvaziar fóruns multilaterais e promovem políticas nacionais com impactos negativos além das próprias fronteiras.

“[Os fóruns e grupos] ganham importância porque vão se tornar um espaço de resistência a essas potências e, principalmente, a esses líderes, que têm nos fóruns multilaterais uma instância de esvaziamento e, mesmo, de tensionamento. Eles adotam uma conduta isolacionista no plano internacional que é cáustica à própria proposta desses fóruns.”

O doutor em estudos estratégicos internacionais e pesquisador do Núcleo de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Brasília (UnB) Robson Valdez, em entrevista à Sputnik Brasil, questiona onde está a democracia ao citar países da Europa, como Alemanha e Inglaterra, onde manifestantes são presos por protestarem contra a guerra na Palestina, por exemplo. Para o especialista, a legitimidade da virtude ocidental está em crise.

“Politicamente, o papel do Brasil é importante. Percebam o posicionamento do governo Lula contra [Benjamin] Netanyahu, contra o genocídio em Gaza, falando em alto e bom som em todos os momentos em que pode que Netanyahu está cometendo genocídio. […] Gaza está colocando em xeque o tradicional excepcionalismo do Ocidente, principalmente dos EUA, no que eles chamam de legitimidade da virtude.

Valdez também reforça que o encontro desta segunda-feira é uma forma de países com realidades distintas discutirem quais são os desafios para fortalecer as instituições democráticas. Ainda que diferentes, alguns obstáculos parecem ser comuns a todos.

Panorama internacional

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É preciso jogar junto

Os cinco líderes presentes no Democracia Sempre foram claros: não é possível governar sozinho. Enquanto o uruguaio Yamandú Orsi declarou que “a democracia às vezes sofre perda de credibilidade”, o chileno Boric ressaltou que é preciso dar ideias para que esse tipo de sistema político cresça de maneira saudável.

Para Goulart, a política externa brasileira é um caso perfeito para pensar em um fortalecimento democrático e multilateral. Segundo a cientista política, o Itamaraty sempre manteve uma postura de não alinhamento às potências, o que traz legitimidade para as relações internacionais do país com nações de menor expressão na geopolítica mundial.

“O Brasil tem muito potencial de ganhar poder através do soft power, que é um poder através da legitimidade internacional. […] [O Itamaraty] tem esse posicionamento em favor dos não alinhados, nessa postura que não se alinha a nenhuma potência, que respeita o jogo internacional.”

Valdez entende que é mais fácil para as nações do Sul Global defenderem o direito internacional e as bases da democracia se jogarem juntas. Dessa forma, negociando e se posicionando em grupo, será mais fácil resistir à pressão dos países ocidentais e de agentes que tentem fragilizar o Estado Democrático de Direito.

“É importante que, para os países do Sul Global, eles realmente possam se unir, discutir e defender as agendas multilaterais porque, através do multilateralismo, conseguem negociar de forma menos assimétrica os próprios interesses com o países do Ocidente.”

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