Brasil - Brasília - Distrito Federal - 29 de outubro de 2025
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Mesmo sob maior controle, cooperativas de crédito crescem mais que bancos

Dois executivos do Banco Central, especialistas em cooperativismo de crédito, explicam que a premissa de estar e atuar em espaços em que o sistema tradicional não tem interesse explica porque segmento cresceu quase mais que o dobro do registrado pelos bancos

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Presente em mais de três mil municípios, a cooperativa de crédito é uma das principais formas de inclusão financeira no Brasil. Na mais recente LiveBC, Adalberto Felinto da Cruz Junior, chefe do Departamento de Supervisão de Cooperativas e de Instituições Não Bancárias (Desuc) do Banco Central (BC), e Ivens Arua Neves de Miranda, chefe-adjunto, detalharam o papel da cooperativa no Sistema Financeiro Nacional (SFN), sua evolução e seus desafios para o futuro.

A 46ª edição do programa teve um significado especial, pois, em 2025, se comemora o Ano Internacional das Cooperativas, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU), e coincide com os 20 anos de criação do Desuc.

Adalberto Felinto e Ivens Miranda ressaltaram que o setor de cooperativas integra a “agenda positiva que o Banco Central vem desenvolvendo já há muito tempo”, a Agenda BC# . Ivens Miranda, por sua vez, afirmou que o segmento está intrinsecamente ligado à própria missão do BC, que está “muito alinhada com toda a performance que a gente vê do cooperativismo nos últimos anos e nos próprios princípios desse segmento”.

No programa, a dupla do BC enfatizou, ainda, o crescimento acelerado do cooperativismo em comparação com o sistema financeiro tradicional e seu compromisso com o desenvolvimento regional, especialmente em municípios com pouca presença bancária.

“Enquanto o sistema financeiro tradicional reduz seus postos de atendimentos presencial no país, com queda no número de agências, o sistema de cooperativas apresenta contrafluxo, crescendo no número de postos de atendimento e de municípios em que atua. Cerca de quinhentos municípios brasileiros não contam com instituições bancárias tradicionais, somente cooperativas”, destacou o Chefe do Departamento, Adalberto Felinto.

Crescimento e atuação anticíclica
Em julho deste ano, o BC divulgou o Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo referente ao ano de 2024. O levantamento, segundo Felinto, revelou que o setor tem crescido quase o dobro do sistema financeiro convencional. “No exercício do ano passado, o SNCC em termos de ativo total cresceu 21% enquanto o sistema financeiro nacional, apenas 13%”, complementou Miranda.

Felinto frisou, ainda, que o sistema cooperativo vem suprindo uma lacuna, posicionando-se dentro dos aspectos “relacionais de solidariedade de atenção especial à comunidade”. A presença física, segundo ele, é crucial. O setor possui, hoje, mais de dez mil postos de atendimento, com mais de vinte milhões de cooperados em todo o Brasil, “número que tende a crescer diante do papel de inclusão que essas instituições cumprem”. Miranda pontuou que o modelo de negócio democrático exige que as cooperativas estejam perto dos cooperados para entender suas necessidades.

Eles lembraram, na live , que o compromisso do cooperativismo também se manifesta em tempos de crise. O setor demonstra uma atividade anticíclica, permanecendo mais ativo na concessão de crédito quando o sistema tradicional se torna mais restritivo. Chefe do Departamento, Felinto explicou a razão central dessa resiliência: “O cooperado não é cliente, ele é dono. Existe uma relação de muita proximidade à instituição financeira, no caso, entre a cooperativa de crédito e o cooperado. E, naquele momento de maior necessidade, as cooperativas redobraram a sua atenção”.

“Essa proximidade gera confiança e fortalece a governança democrática, permitindo que os ganhos das instituições sejam devolvidos diretamente à comunidade em forma de sobras ou investimentos locais”, acrescentou.

Inclusão e desenvolvimento regional
Adalberto Felinto e Ivens Miranda também comentaram sobre o papel essencial das cooperativas na inclusão financeira, especialmente em regiões não alcançadas pelo sistema bancário tradicional. Estudos comprovam que a atuação cooperativa gera externalidades positivas, oferecendo crédito mais barato e instrumentos de captação mais atrativos. Além disso, as sobras do exercício são distribuídas entre os cooperados, oferecendo um ganho financeiro adicional.

A atuação se estende para além do financeiro, segundo a dupla, promovendo a inclusão social. Adalberto mencionou que as cooperativas, em muitos casos, são responsáveis por manter escolas, hospitais e postos de saúde. O Chefe do Departamento do BC citou um caso em Minas Gerais em que uma cooperativa transformou os níveis de educação de seu município.

Também citou na live que a presença do cooperativismo garante que o recurso gerado permaneça na localidade, promovendo a prosperidade e o crescimento. Segundo ele, dados do Sebrae mostram que “municípios com atuação de cooperativa de crédito são mais ricos” e que “esse município tende a ter desenvolvimento maior, tende a ter menos pobreza”.

O setor também se destaca na concessão de crédito para pessoa física sem consignação, micro e pequenas empresas, e crédito rural, nichos no qual o sistema tradicional é mais conservador, apontou.

Regulação e governança
Os representantes do BC lembraram que a autarquia supervisiona e regula o setor de forma intensa, garantindo sua solidez. Adalberto e Ivens citaram também que o cooperativismo de crédito é o único segmento com ações explicitamente listadas nos pilares da Agenda BC#, abrangendo inclusão, competitividade, transparência, educação e sustentabilidade.

Eles frisaram que o crescimento do sistema cooperativo está sujeito às mesmas regras prudenciais que o sistema financeiro tradicional, incluindo requisitos de capitalização, índices de liquidez e cumprimento de normas internacionais, como os parâmetros de Basileia. E que o modelo de cooperativas tem ainda camadas adicionais de controle: supervisão feita pelas centrais de crédito, auditorias independentes, bem como a proteção do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop), que assegura depósitos até R$250 mil.

Desafios da digitalização
Ao abordar o futuro do cooperativismo, falaram que o desafio central reside na conciliação entre a base local e a necessária digitalização. Adalberto Felinto questionou como manter o senso de pertencimento e propósito no ambiente virtual, já que “o cooperativismo tem base local, no contato, na presença”.

A atuação híbrida (expansão física mais digital) é vista pelo BC como o caminho ideal para conciliar a inclusão financeira em áreas remotas com a eficiência exigida pelo SFN. Ele ressaltou que essa inclusão deve ser acompanhada por educação financeira para evitar o superendividamento e promover a utilização consciente dos produtos.

Ivens Miranda reforçou que a capacitação e a certificação de conselheiros e dirigentes são incentivadas, embora o BC, por enquanto, não se veja como o órgão adequado para realizar essa certificação diretamente.

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